ELOGIA À BELEZA
O belo se esconde no evidente.
Imiscui-se por toda a parte.
Tinge a textura do cotidiano.
Muitas vezes camuflado no óbvio, pega o coração de surpresa.
Olhos displicentes podem não captar a formosura, que permeia a vida.
Alma abatida não reconhece o inefável, que está por aí.
Basta um instante, um hiato, um risco no céu e lá se foi o encantador, perdido para sempre. Alguma lindeza esquecida espera ser descoberta no fundo do pântano, na escarpa da rocha, no rosto crispado da viúva, no riso frouxo do adolescente.
As alvoradas despertam sede de beleza.
O orvalho aguça o desejo de alimentar a alma com os muitos matizes do verde das matas.
De repente, sempre de repente, desabrocha o anelo pela nuança semântica que tranfigura o texto em recado divino.
A música calma deixa o coração estranhamente sorumbático.
Mas, na mesma hora, uma excitação sobrenatural converte o lamento
em vontade de pular de alegria.
A beleza torna a vida irresistível.
O belo tem poder. Fascinante, inspira o poeta.
O belo tem poder. Fascinante, inspira o poeta.
Transforma o leigo em criador fecundo.
Incorpora contentamento no triste.
Sensibiliza o bruto. Muda o apático em trovador.
Incentiva o tosco a bailar no ritmo de melodias imponderáveis.
Dá sensibilidade ao cético para perceber a eternidade na realidade crua.
O belo é divino.
(Ricardo Gondin)
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