segunda-feira, 18 de abril de 2011
TRIBUTO AO VICENTÃO
Tributo ao Vicentão…
Vicentão se foi. Deixou em nós, seus filhos, uma marca indelével....
Deixou um legado, a maior herança que um pai pode deixar para seus filhos... o caráter, a dignidade, honestidade, integridade, unidade.
Desde pequenos nossas lembranças são remetidas a momentos inesquecíveis....
Todas as crianças, (8) empuleirados em cima de sua cama (que não havia estrutura que agüentasse, por isso estava sempre escorada com tijolo) e ele animada e pacientemente nos contava as histórias de suas viagens como motorista... descrevia o mar com tanta propriedade que parecia que já o conhecíamos, descrevia as estradas, cada curva sua conhecida, e as horas intermináveis dentro de um carro, esperando seus patrões saírem de bailes e festas...
Sua “farda” de motorista era impecável, mamãe sempre as mantinha em ordem para seu trabalho....
E quando chegava em casa, e ia para o fogão fazer uma comida para todos nós?
Abria a geladeira e só tinha feijão cozido. “Engenheirava” um arroz com feijão tão diferente, tão maravilhoso que para nós era um banquete... banquete porque era regado a carinho, dedicação e demonstração de afeto... E quando tinha ovo, era outra festa... fazia um arroz com ovo pochê, que nos deliciávamos e esperar ficar pronto era uma eternidade, pois sabíamos que seria um manjar dos deuses.
Cebola no feijão, muito alho na comida... fartura... coisas de Vicentão.
Era “farturento” , para ele era inconcebível fazer pouca comida.... em qualquer hora sempre tinha comida para qualquer pessoa que chegasse...
“Falarei tudo de bom que souber de um homem” .... Batia nessa tecla com a gente e não permitia que falássemos mal de alguém....
“Não há quem não cuspa para cima que não lhe caia na cara”.... Ensinava com essa frase a lei da semeadura e colheita....
E quando os irmãos brigavam? Inadimissível para ele um irmão virar a cara para o outro...e ele dizia....
“Aqui em casa irmão não dorme de cara virada pro outro” ... e a gente morrendo de raiva era obrigado a abraçar o irmão e “fazer as pazes”.... e quando a gente se recusava a abraçar o outro ele dizia...
“Vocês não vão dormir enquanto não se abraçarem de verdade” ... E terminávamos nos abraçando e morrendo de rir da briga, que perdia toda a força naquele abraço e pedido de perdão.... e não tomava partido de ninguém.... os dois estavam errados e precisavam se perdoar....
“Televisão é fábrica de loucos, já dizia Stanislaw Ponte Preta”.... ele sempre dizia isso para nós, e demoramos a ter televisão em casa.... e quando estávamos muito obcecados diante da TV ele dizia.... “Stanislaw Ponte Preta tinha razão, é fábrica de loucos, a televisão divide a família”.
Quando precisava dar um corretivo maior, sempre dizia para minha mãe: “Criança se bate nas pernas e na bunda, nunca nas costas ou na cabeça”.
E no natal? Era ponto de honra ter um frango assado e arroz....Só Deus sabe a dificuldade para comprar aquele frango assado.... mas também era um banquete para nós, principalmente porque era esperado ansiosamente e era regado a carinho.
Lembro-me um dia em que, minha irmã mais velha queria dinheiro pra comprar um presente para o namorado (abastado) e ele saiu para trabalhar obcecado com a idéia de voltar para casa com aquele dinheiro...Chegou em casa e contou a mesma história um monte de vezes, tamanha a alegria...nessa época era motorista de táxi, e as corridas eram poucas, e quando já estava desistindo, veio um doutor e fez uma corrida grande e ainda ganhou uma boa gorgeta . E ele dizia: “Foi Deus, eu tenho certeza, eu não podia voltar para casa sem esse dinheiro, e foi no último momento, eu passei o dia em aflição mas não aparecia ninguém, e de repente surge o Dr. Fulano de Tal e ainda me dá essa gorgeta”. E essa mesma história nós ouvimos umas dez vezes seguida naquele dia... .
De bom coração, não media esforços em ajudar as pessoas... Foram inúmeras as pessoas que nos disseram no dia do seu velório de alguma forma o Vicentão tinha lhe ajudado...
Foi motorista de muitos prefeitos, e em sua profissão visto como alguém de confiança, que sabia guardar segredos e confidências...
Quando morreu Simão Tamm Bias Fortes, prefeito que servia como motorista, chegou em casa dizendo o quanto foi difícil segurar o choro por causa desse grande homem a quem muito respeitava, e ele nos ensinava como segurar o choro diante das pessoas se estivéssemos em situações que não queríamos ou não podíamos chorar.
Chamava os filhos de “Quiquica do papai”, e quando os netos e bisnetos foram chegando eles se tornaram o “Quiquica do vovô” ou “Quiquica do bivô”... Essa simples palavra, mas tão carinhosa, tão carregada de afeto, fazia com que cada um sempre se sentisse único para ele.
Aliás essa era sua principal característica, sempre fazia com que cada um de seus filhos netos e bisnetos, se sentissem especiais para ele.
A lacuna deixada em nossos corações hoje, é gigantesca, mas gigantescas são as boas lembranças de suas atitudes como pai, mais que um pai, era um amigo que tinha paciência de nos ouvir e nunca lhe faltava uma palavra de incentivo e carinho para cada um de seus filhos.
Durante todos os meses em que nosso pai esteve doente, Deus nos deu um presente maravilhoso: a oportunidade de estar bem perto dele e de reviver e passar a limpo nossa vida em família.
Rimos muito de nossas histórias (mesmo as que pareciam tristes!), mas também choramos muito ao relembrar tantas outras sofridas.
Tivemos a oportunidade de nos perdoarmos, de falar sobre o que nos afligia e de revivermos coisas que nem sequer nos lembrávamos mais.
Enfim, tivemos o privilégio de nos prepararmos para viver esse momento tão difícil que estamos vivendo agora.
De tudo o que nos lembramos e que revivemos o que ficou nos corações de nossa mãe, de cada filho, genros, noras, netos e bisnetos foi: viveríamos tudo novamente, cada segundo de alegria e de tristeza, de saúde e de doença, em que pudemos nos amar, nos respeitar, rir e chorar juntos.
Ele nos deu a lição mais valiosa que pudemos aprender: JUNTOS SOMOS MAIS FORTES!
Levaremos para nossa geração nossa história com muito orgulho.
Com um orgulho imenso de termos tido o privilégio de fazer parte da história de vida do VICENTÃO.
Ele foi honrado em vida por nós de todas as maneiras que se pode honrar uma pessoa.
E agora, após sua morte nós o honramos novamente pelo que ele era e para que as pessoas que o conheciam não se esqueçam do quanto ele era especial e único.
Vicentão, ao se encontrar com Deus, diga-lhe que nós o louvamos muito por ter nos dado de presente um pai como você!
Sua esposa Terezinha e filhos, Rita, Zizinha, Lígia, Marcos, João Luiz, Ricardo, Heloisa e Silvininho, que te amam muito.
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