quinta-feira, 22 de outubro de 2009

domingo, 18 de outubro de 2009

Curta ou longa metragem?









Estilo, modismos e o desejo de atrair olhares determinam o comprimento dos cabelos...
Vera Fiori - O Estado de S. Paulo
Segundo Silvia Marques, autora do livro A História do Penteado (editora Matrix), o dilema de optar pelo comprimento dos cabelos atormenta as mulheres desde priscas eras. De Afrodite, deusa loira da beleza e do amor, passando pelo megahair de Maria Madalena ao curtinho de Joana D’Arc, muitas tendências rolaram nas águas da história. "O cabelo é o símbolo máximo de feminilidade. Quando o corte é feito contra a vontade, como demonstração de força e poder, é mais do que um gesto de brutalidade, é uma mutilação", fala a autora, citando os filmes Malèna e a A Filha de Ryan, nos quais o terrível castigo é imputado a prostitutas e adúlteras.


Nos anos 1960, as tesouras deram um baile.
Na vanguarda, as atrizes Mia Farrow e Jean Seberg, a estilista Mary Quant e a modelo Twiggy sucederam as "gamines", como eram chamadas as mulheres de cabelos curtinhos e de aparência frágil, assim como as atrizes Leslie Caron e Audrey Hepburn, ambas no começo de carreira.
Este ano, a top Isabeli Fontana causou impacto ao surgir lindíssima como uma gamine vamp, na campanha de maquiagem da Chanel. Teria a top dado adeus às longas madeixas?
Nada disso, a produção usou uma peruca:
"Mudanças radicais são sempre avaliadas em função da imagem da modelo e contratos de trabalho", lembra a agente da top, Monica Marques, da agência Mega.


Assunto que dá pano para manga, os fios sobem e descem ao sabor da moda, mas só no resto do planeta. No Brasil, ai do cabeleireiro que cortar um centímetro a mais do cabelo. É chilique, choro ou motivo para se esconder na certa.

PONTOS DE VISTA

O cabeleireiro Marco Antonio de Biaggi, expert em cabelos compridos (e blondies), comenta esse apego à cabeleira:
"Você está falando com a pessoa certa. Atendemos 300 clientes por dia e todas elas querem seduzir e mostrar poder por meio dos cabelos longos, lisos, repicados e com boa textura. É só pensar em Adriane Galisteu, Luana Piovani, Aline Morais, Juliana Paes, Carolina Dieckmann, Isabeli Fontana, Maria Fernanda Cândido, que conciliam exuberância e personalidade", fala Marco, que, em 20 anos de carreira, produziu 700 mulheres para capas das principais revistas femininas, todas de cabelões. "Acho que das 21 capas que fiz para a revista Nova, apenas em 3 delas as atrizes estavam de cabelos curtos."


PHILIP HALLAWELL - VISAGISTA


Dos salões para o visagismo, um outro ponto de vista. Segundo Philip Hallawell, autor de Visagismo Integrado – Identidade, Estilo e Beleza (Ed. Senac), a identidade pessoal também se revela por meio do cabelo, e o jogo de comprimentos possibilita leituras que vão além do formato do rosto:
O cabelo no ombro tem ação neutra. Abaixo, dá sensação de peso, de que a mulher necessita de apoio financeiro ou emocional, além da conotação de submissão, ao querer agradar ao homem. Se for liso e reto nas laterais do rosto, como entre dois trilhos, denota controle, rigidez. Longos, com ondas largas, e repicados, sinaliza sexualidade à flor da pele. Quanto mais curto, maior a independência, leveza, dinamismo. Com relação à estética, por volta dos 30 anos aos primeiros sinais de envelhecimento, o curto promove uma ação visual para cima, como um lifting, enquanto o cabelo pesado dá um efeito contrário.
Hallawell recorre à ciência para entender uma contradição típica da brasileira nos dias atuais, ou seja, assumir posições de comando ou reproduzir o que vê nas capas das revistas?
– As imagens provocam uma resposta emocional antes que sejam interpretadas.


A avalanche de fotos sensuais e glamourosas é absorvida de maneira inconsciente e subliminar, e a mulher associa beleza exclusivamente a sensualidade.

Mas será adequado ser sensual durante 24 horas?
Conteúdo e valores como criatividade e dinamismo também são uma forma de beleza.
MUDAR É BOM

Ao ganhar o papel de uma garota moderna, que retorna à cidade natal na novela Paraíso, da TV Globo, a atriz Fernanda Paes Leme viu as mechas
dos longos cabelos castanhos se espalharem pelo salão de Wanderley Nunes.
A mudança foi radical: "A princípio, fiquei um pouco nervosa, mas amei o resultado, mexeu com a minha autoestima."
O cabelão foi para o ralo e, com ele, o mito de que a sensualidade está no comprimento.
Segundo Wanderley, o corte de Fernanda tem base reta e fios repicados, no estilo da atriz
Katie Holmes, "remetendo à praticidade e modernidade."
Mas antes de se empolgar, diz ele, é bom pensar duas vezes: "Se estiver triste, não mude radicalmente para não se arrepender depois. Também é importante levar em conta o formato do rosto. O triangular, por exemplo, é o que menos oferece opções de curtos, ao contrário do quadrado. Largura de testa, tamanho de nariz, queixo e boca devem ser levados em conta, já que o rosto fica todo descoberto", aconselha.
Quem também tosou as madeixas foi a editora de moda Erika Palomino, jurada do programa Brazil's Next Top Model. Sobre o novo look (que alguns compararam ao da modelo inglesa Agyness Deyn ), observa: "É um tipo de cabelo que exige atitude, e que só faz parte do repertório visual de quem conquistou o direito de fazer o que quiser sem ligar para a opinião dos outros. É libertador." E acrescenta:
– Cortei com o Pablo e tingi com o Yuha, ambos do MG Hair. Aproveitei que perdi peso para cortar mais ainda. Gostei muito. Eu sempre quis ter um cabelo meio Elis Regina e Mia Farrow, em O Bebê de Rosemary!
Sobre a resistência das brasileiras à tesoura, Erika acha que existe uma cultura de sedução em torno dos cabelos compridos. "Os homens supostamente gostam mais, e as mulheres os mantêm como arma de conquista e também como apoio emocional e elemento de competitividade diante das outras mulheres – quem tem o cabelo mais bonito, mais comprido, etc."
Desapegada dos fios, para ela, as modelos deviam ter a mesma postura. Ou mais até, já que o mercado de moda exige mudanças . Jurada durona do programa, comenta o chororô das meninas na hora da transformação de beleza:
"Elas se deprimem e sofrem com crise de identidade e personalidade. Não sabem explorar o novo personagem. E também têm medo de o mercado não entender e elas perderem trabalho. Não sabem, coitadas, que é exatamente o contrário!"
Formada em Arquitetura, há cerca de cinco anos a atriz e bailarina Maysa Mundim mantém o corte moderno, assinado por Guilherme Cassolari.
"Já usei até moicano multicolorido para um concurso de beleza. Não me importo de mudar sempre, afinal, cabelo cresce mesmo." Sobre o mito da sedução dos longos, ela e Cassolari dividem a mesma opinião:
"O homem de cabeça mais aberta se sente atraído pelas mulheres de cabelos curtos."

CORTAR, JAMAIS
Nem mesmo a ideia de que o curto subtrai alguns anos e promove um lifting visual convence Rosa Maria Fernandes. Ela tem trauma de cortes radicais e explica o motivo:
"Minha irmã tinha um problema grave de saúde e minha mãe fez uma promessa de não cortar o cabelo dela. Como ia até a cintura e dava muito trabalho, ela cortava o meu no estilo chanel bem curtinho, na orelha. Mas quando fiz 12 anos, dei meu grito de liberdade e fugi da tesoura."
Rosa continua fugindo da tesoura até hoje e tem suas teorias:
"Quem gosta de cabelo curto é cabeleireiro. Homens gostam de cabelo comprido", diz ela, taxativa, deixando claro que este é também seu gosto pessoal.
Também a modelo Ana, que é fotografada para editoriais de moda e beleza, sempre usou cabelos compridos e nem se imagina sem eles. "O máximo em mudanças para mim é cortar uma franja ou repicar. Já se surgir uma proposta tentadora de trabalho, quem sabe..."
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Vera Fiori - O Estado de S. Paulo