terça-feira, 6 de julho de 2010

CRIS GUERRA .... "Libertando-se" dos cabelos? ....

Esta é a Cris Guerra... Linda, charmosa e com muuuito conteúdo......
A experiência de uma mulher que “abriu mão" do cabelão.... e olha no que deu....
"O que aquele cabeleireiro havia acabado de tirar das
minhas costas não era cabelo: era o peso da
expectativa do mundo".
Você conhece alguém que sonha ter os cabelos ondulados?
Pois os meus pertencem a este meio-termo infeliz: nem
o ar angelical dos lisos escorridos, nem a aura sexy dos lisos
esvoaçantes e muito menos as fantasias que moram debaixo
dos caracóis.
Por muito tempo acreditei que só com fios longos
escorridos eu seria digna de respeito. Cresci vendo minhas
irmãs alisarem os seus. Seguindo o exemplo, passava
semanas debaixo do secador, uma vida fugindo da chuva
e muitos banhos ouvindo o barulhinho da água batendo na
touca – e saía sempre com a sensação de não estar limpa o
suficiente. O nível mais baixo a que cheguei foi dormir com os
fios enrolados ao redor da cabeça, detidos como criminosos
por uma meia-calça. Eu me deitava um monstro na ilusão
de amanhecer linda e bem-nascida — naquele tempo, não
existia chapinha.
Até que me rendi ao corte da moda: o repicado. Subi uns
dez pontos na escala do amor-próprio — não fosse o fato
de me tornar mais uma sósia do Keith Richards, o que só
percebi anos depois, vendo minhas fotos antigas. Os cabelos
cresceram, fui de novo ao salão, mas não tive a mesma sorte:
o cabeleireiro errou a mão, cortando bem curto na frente
e deixando um longo mullet para compensar. De roqueira,
passei a uma sertaneja cabeleira Chitãozinho & Xororó.
Apegada aos poucos fios longos que o corte me havia
deixado, sustentei a situação por algum tempo — minha
autoestima parecia ser diretamente proporcional ao comprimento
deles.
Eu tinha 19 anos e trabalhava num banco quando finalmente
fui salva: um dos clientes, cabeleireiro, colocou sobre
a minha mesa o seu cartão de visitas. Entendi o recado. No
dia seguinte, eu estava diante dele, corajosa: "Corta tudo."
Não imaginava que aquela frase pudesse proporcionar tamanho
prazer a um homem.
Com suas mãos de tesoura, ele começou extirpando os
longos fios aos quais eu havia me afeiçoado tanto. Balancei
a cabeça para um lado e para o outro. Uma surpreendente
sensação de leveza tomou conta de mim. O que aquele
cabeleireiro havia acabado de tirar das minhas costas não
era cabelo: era o peso da expectativa do mundo. Naquele dia,
acho que nasci outra vez.
Hoje, cerca de 240 cortes depois, me sinto a cada dia
mais à vontade com meus cabelos curtos. Arrepiados, com
gel ou musse, curtíssimos ou maiores, penteados ou no
melhor estilo rock'n'roll, só uma coisa não muda: a certeza
de que o parâmetro para me aceitar está em mim mesma.
Deve ser por isso que, à beira dos 40, eu me sinto como eles:em plenos 20 anos.
Amei tudo o que a Cris disse, com muita propriedade.......
Certa vez, uma cliente minha que é psicóloga me disse que tinha verdadeira admiração pelos cabeleireiros, porque eles tinham uma coragem incrível de simplesmente cortar os cabelos ....
Eu simplesmente lhe respondi que o cabelo faz parte do senso de identidade de uma mulher, por isso era tão séria a nossa profissão, pois se o fizermos de uma forma aleatória ou displicente, podemos levar uma mulher à depressão... O cabelo sem dúvida, pode ou não expressar o momento de vida e muitas vezes pode expressar escravidão ou libertação....
Mas tudo tem o momento certo...... Ninguém pode copiar ninguém ou fazer simplesmente porque o outro fez.... Há tempo para tudo... e até para "abrir mão" do cabelo (se é este o caso) com certeza tem o momento certo....
O cabelo é identidade............................................
Bjsss, bjsss, e... Cris, obrigada por permitir mostrar seu texto tão verdadeiro e tão oportuno.
Lígia Lima
STUDIO LIZ